terça-feira, outubro 24, 2006

Espectros


Entreter-me com alguma coisa, para não fixar o infinito durante tempo demasiado, para não julgarem que o que já não tenho normal, chegara a piorar.

Apetece-me sair daqui, ir para as montanhas, sentar-me entre malmequeres amarelas e brancas, e vêr borboletas num voo ondulante. Lugar onde só se ouvisse o vento na ramagem das árvores e os pássaros. Não quero ouvir uma única voz humana que seja, não quero um gesto amigo, recuso palavras aconchegantes, não tolero sentir mão no ombro, farta de valores que se ficam pela projecção, sem paciência para as conversas de merda, ainda mais farta estou por não puder reagir quando quero e como quero. Estou cansada de pensamentos e intenções paralelos, de sorrisos muito bem desenhados, do burburinho contagioso e corrosivo.

Estou cansada de vêr montras ambulantes, com a diferença de haver mais carne para fora das calças, não aturo mais crianças com pêlos púbicos, nem adultos que fazem birra, gente pequenina em que o seu maior dilema é escolher entre a TVI e a SIC.

Estou farta do mundo em que vivo, apetece-me fugir para qualquer lado, e ao mesmo tempo não querer ir, por saber que outro sítio não será melhor que este. É uma realidade.

Deveria ter nascido à gerações atrás, nunca agora. Não me enquadro de maneira nenhuma nesta sociedade dita democrática, neste marasmo, nesta paralisia, nesta acomodação, nesta segurança fingida, nesta aparente estabilidade, optimismo infundado, nesta maravilhosa ostentação que se leva, criando o fosso que todos estamos sinceramente fartos de ouvir falar.

Uma guerrinha civil se faz favor. Prefiro viver armada e guerrilhar todos os dias da minha vida do que continuar a dormir em barril de pólvora, viver em paz pútrida.

E escrevo isto tudo sem qualquer razão aparente talvez, porque de facto a minha falta de sono, o meu fel e raiva em nada estão relacionados com isto directamente. Passei a conseguir veicular o que sinto para algo mais educativo.

História de um ser desterrado, que não encontra sítio para se sentir como deve ser. Até lá, continua-se como se nada se passasse, como sempe, aliás.

Era tão fácil ser como eles. Tão fácil... mas fui levada para fora da caverna, e já não dá para voltar. Abençoados os ignorantes, aqueles que me julgam maníaca, inferiorizada, problemática, anti-social, desiquilibrada talvez. Só vos digo que, por muito que vos explique, nunca em dias de mundo irão perceber. Resta-me fazer-vos o sinal da cruz e que Ele vos acompanhe.


Não pregarei

2 Comments:

Blogger Be said...

Acrescentando duas ou tres linhas... tinha a historia da minha vida!

Lindo.

terça out. 24, 08:46:00 da tarde  
Blogger Ari said...

Acho que qq um de nós tem momentos assim, eu so substituia os malmequeres e as borboletas por neve, dá-me uma paz imensa sentar-me la no alto e ficar a olhar pra montanha.(ao fim do dia então, é perfeito!)

Uma sugestão, podes escolher entre o Afeganistão, o Iraque, a India, Coreia do Norte, entre outros, prai ha muito por onde batalhar... (dizem que na Hungria as coisas tb andam meio rabujentas)

Não desesperes, o nuclear está a chegar! :)

quarta out. 25, 12:31:00 da tarde  

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