quinta-feira, setembro 22, 2005

Uma aula de Teorias da Comunicação

Já vamos a meio da apresentação de slides na aula e não consegui, ainda, reter qualquer tipo de informação. Os circuitos eléctricos do cérebro estão em abrandamento progressivo. Observo a jovem professora, um pouco nervosa pela falta de experiência, gesticulando e falando entusiasmada, como que a ideia de se ver no hemisfério de docente fosse uma visão algo empolgante.
Levanto os olhos do papel e reparo que já muitos dos restantes se desligaram da aula. Ao meu lado esquerdo, o grande Manel a escrever um poema com intenções de o enviar via mail para a professora inexperiente; do meu lado direito, o Paulo que, sem qualquer razão aparente, resolveu pegar na caneta preta e escrevinhar, até agora, meia página.
Conversas cruzadas, reduzidas a sussurros, gargalhadas abafadas, relatos do rescaldo das ferias num murmurinho enervante.
No entanto, e apesar de tudo, não são as conversas, nem as piadas que me atordoam de momento. Mas sim um determinado tipo de pensamentos a que me vi exposta. Pensamentos estes, que detém, não só uma carga fortemente positiva, como também, o inevitável reverso da moeda: o lado negativo, (a professora chama a atenção dos alunos e sugere ironicamente um intervalo) que chocam e criam um turbilhão de teorias, mentalidades, coerências, sensos-comuns, conclusões hipotéticas, inseguranças seguras e seguranças inseguras.
Durante esta espera tortuosa e angustiante pela verdade iminente, vejo, para além da cortina difusa da temporalidade e surrealismo, uma vida paralela à decorrente em função das opções que tomamos, e dos caminhos pelos quais enveredamos.Sim, bem sei que, muito provavelmente, não conseguirão entender onde quero chegar, qual o propósito que me estimulou a preencher as páginas ermas do caderno. Pois bem, também não quero que o façam

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Estou aqui enfiado na sala de aula a sentir o calor com que o sol nos decidiu fustigar... Sim... porque o sacana de um cabrão só decidiu aparecer agora.... Alguém é capaz de me explicar porque raio a minha ultima semana de férias foi passada à chuva e a primeira de aulas cheia de convites prair pra praia e pra piscina?!?!? Fico fodido, pois claro que fico fodido!! Tou aqui suado e cansado sem nada de jeito ter feito... sentir o “smell a katinga” do people à minha volta, ouvir os atrofios e delírios líricos do Manel, brincar um bocado com a Rita e dizer-lhe que tem umas cuecas giras... Mas que raio de dia!! Apetece-me sair, fugir, passear, ir daqui até ao Guinxo de vidros abertos a sentir o vento na cara e a ouvir uma bela música, ver o por-do-sol no Cabo da Roca, apetece-me.... Qualquer coisa!! Qualquer coisa que não tenho agora, qualquer coisa que não posso ter agora... Quero algo que me escapa, que sinto mas não toco, cheiro mas não sinto. Algo que está por aí solto, à deriva, e que me liberta, que me faça sorrir quando tenho vontade de chorar e abandonar estes “fait divers” que a vida nos atira. Quero ser algo mais, ter e sentir algo mais... Quero liberdade... Uma liberdade de que ouvimos falar mas que nunca provamos, quero abandonar estas correntes que me prendem ao terreno e seguir livre rumo às estrelas... aos sonhos... Quero!!! Ao esse doce aroma que me assola o cérebro e me liberta os sentidos... Fecho os olhos e quase que a toco... Mas quem é ela afinal?? Transmite-me uma calma tal que só penso no que conseguirei fazer mais para alimentar esta presença, para ela não me fugir e me deixar de novo aqui sozinho, abandonado no escuro que é o meu “eu” físico. Vejo-a afastar-se e rogo-lhe que volte pra trás, que não me deixe... Ela sorri e nesse mesmo instante sei que mesmo sem ela terei força!!
Abro os olhos e vejo os meus colegas ao meu redor... Sorrio!! Pois sei que não estou sozinho...

By Paulo

Mais um dia memorável

Apoio a cabeça no punho esquerdo e, com o rato, abro janelas ao acaso como tentativa de distracção. Sem mexer a cabeça, deslizo o olhar para o horário colado na parede acima do monitor. Ver espanhol à primeira hora da manhã não me agradou de todo.
Estendo-me na cama depois de ter afastado livros e cadernos espalhados pelo edredão, e a cadela até então aconchegada à almofada. Era capaz de dormir um dia inteiro como cansaço que tinha. Lentamente, fecho os olhos, encadeados pela luz da secretária e revivo os bons momentos que nem há muito tempo passei com grandes amigos. Não são muitos, mas bons o suficiente a ponto de proporcionar aquele à vontade espontâneo e natural.
O melhor momento foi, sem dúvida, deitarmo-nos no morro de relva íngreme, a inclinar-se para as margens do rio. E deleitarmo-nos com o fogo serpenteante, rasgando os céus num tom sibilante, fazendo ricochete nas casas mais próximas de ambas as margens.
Depois de 15 minutos de luz sucessiva, faz-se silêncio de repente. Tempo para normalizarmos a respiração e sentirmos o cheiro a queimado, ouvirmos os alarmes dos carros a apitar frenética e descompassadamente, o murmurinho geral de entusiasmo e admiração e contemplarmos o manto de fumo e pólvora queimada sob as águas do leito do Tua.
E, quando menos esperamos, no meio do rio, crescem faíscas do fogo preso em plataformas. O barulho é ensurdecedor, chegando a sentir o calor na fronte.
Ao fim de uma hora, depois de terminado o espectáculo e de sermos incomodados pelas formigas tempo suficiente, dirigimo-nos para as barracas, fazendo-nos acompanhar sempre de um cigarro na mão direita (só alguns) e uma cerveja na esquerda (quase todos).
Apesar de me convencer que já conheço as pessoas, os sítios e as modas daquele lugar, o que é certo é que sempre que lá vou. Conheço sempre gente nova e o dia seguinte é sempre diferente do anterior.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Angel

Spend all your time waiting
for that second chance
for a break that would make it okay
there's always one reason
to feel not good enough
and it's hard at the end of the day
I need some distraction
oh beautiful release
memory seeps from my veins
let me be empty
and weightless and maybe
I'll find some peace tonight

in the arms of an angel
fly away from here
from this dark cold hotel room
and the endlessness that you fear
you are pulled from the wreckage
of your silent reverie
you're in the arms of the angel
may you find some comfort there

so tired of the straight line
and everywhere you turn
there's vultures and thieves at your back
and the storm keeps on twisting
you keep on building the lie
that you make up for all that you lack
it don't make no difference
escaping one last time
it's easier to believe in this sweet madness oh
this glorious sadness that brings me to my knees

in the arms of an angel
fly away from here
from this dark cold hotel room
and the endlessness that you fear
you are pulled from the wreckage
of your silent reverie
you're in the arms of the angel
may you find some comfort there
you're in the arms of the angel
may you find some comfort here


Sarah McLachlan