segunda-feira, março 27, 2006

Capoeira




Balança p'ra lá, balança p'ra cá,
Esquiva suave e golpe seco
Salta, desvia e da.
Junta e vem jogar.

Pé quente, cabeça fria
Au, negativa, rolê
Hoje é dia de alegria
Se não sabe, tem que aprender

De tanta musica já ouvida que já me dou ao trabalho de alinhavar ideias dispersas e criar, eu própria, algo semelhante. Bem, pelo menos foi o que me saiu! :)

quinta-feira, março 16, 2006

O meu Pessoa


Estes últimos dias têm passado a correr. A necessidade de correr o mundo de lés a lés tem surtido efeito. Caras novas, programas diferentes, mais calor, dias solarengos, outros temas de conversa, nos entanto, as mesmas peocupações.
Não consigo estar parada e muda um só minuto. Virei apologista da tese “Há-Sempre-Alguma-Coisa-Para-Fazer” para não tropeçar em melancolia e tudo o que arrasta consigo.
E chega a melhor parte do dia! Duzentos abdominais e quarenta e cinco flexões, quatro sprints puxados e uns quantos movimentos, fazem com que se liberte energia de magnitude relevante, que poderia, eventualmente, fazer estragos. Naquela hora, eu vivo para as quatro paredes, lá fora é ermo. O ritmo lapida a minha disposição e o calor do jogo obriga-me à concentração do balanço sincronizado com a atmosfera.
Neste momento estou a escaldar do meu braço direito, única parte do corpo exposta ao sol agressivo da esplanada.
Levanto a cabeça do papel e observo, por minutos, os carros a arrancarem no semáforo à minha direita. “Dor de pensar” já dizia aquele génio da demência, louco pelo absoluto, insatisfeito com a totalidade. Não me admira que tenha tido um desfecho infeliz. Poucos são aqueles que acompanham e entendem e, muito menos Pessoa no seu expoente máximo.
Era agora que me dirigia ao largo do Chiado, sentava-me na Brasileira, ao lado de um homem magro, de fino bigode, de olhos pequenos por detrás de uns óculos apoiados num nariz adunco. Pedia uma bica, acendiamos um cigarro e falávamos sobre o inantigível, sobre a transladação da Terra, sobre tudo o que era inexplicável, arranjávamos teorias, destruiamos outras, reconstruíamos o mundo á nossa imagem. Pelos vistos cheguei umas quantas gerações atrasada.

Onde andas tu poeta incompreendido?

segunda-feira, março 13, 2006

"Sem remédio"

Salvador Dali - Lighted Giraffes


SEM REMÉDIO


Aqueles que me têm muito amor

Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor,
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!...


Florbela Espanca

segunda-feira, março 06, 2006

Erva Alta


És tu que jazes por entre as ervas altas?
Agarro uma mão glaciar e petrificada.
Fixas o céu, a lua e as manchas estreladas.
Os dedos hirtos e roxos sugam o calor dos meus lábios.

Afogo-me pela última vez nos teus cabelos ensanguentados.
As lágrimas misturam-se com o pó do teu rosto.
Ficou tanta coisa por dizer, tantos sorrisos por serem trocados.
E estás tu agora de expressão calada, morta.

Encosto a tua cabeça ao meu peito e segredo-te
As últimas palavras que nunca cheguei a pronunciar.
Já acabou? Não! Estás apenas a dormir e embalo-te.
Falhei. Onde estava eu quando mais precisavas de mim?

Limpei o fio de sangue que te escorria da boca
E depositei-lhe o último, fugaz e decisivo adeus.
Ergo-me e afasto-me muda, em passada rouca.
Cambaleando como também se me tivesse ido...

sexta-feira, março 03, 2006

Alentejo



Provo o arroz doce ainda quente e olho para a janela à minha direita, contemplo a paisagem coberta de oliveiras, pinheiros e azinheiras. O vento traz-nos o som dos badalos do gado lá longe onde se pantorreiam das primeiras pontas de erva verde deste ano. Parecem formigas vistas daqui.
Mantos de extensão inimaginável de malmequeres brancas e amarelas cobrem montes e montes de uma vez só. Pequenas estradinhas de terra batida até desaparecerem de vista, são ladeadas por velhos e vergados sobreiros, proporcionando uma calma e convidativa sombra a quem passa.
Aves de rapina planam bem alto contra a aragem fria da época, tentanto captar algum movimento entre os pequenos arvoredos.
É tudo tão calmo. O tic-tac do grande relógio de corda da sala trava guerra com o barulho dos tractores num vaivém atarefado.
Uma refeição digna de um rei.



quarta-feira, março 01, 2006

1º aniversário



Um aninho! Quem diria! Este blog tem muito que se lhe diga. Não pela categoria, mas pela história que acompanha. É o meu livrinho de anotações para onde deixo escorrer, por entre uma brecha, aquilo que me ocorre. Tanto o meu lado iluminado, como o mais escuro estão aqui representados, em função das fases que uma pessoa atravessa. Não vou dizer que, daqui para a frente, espero que todas as postagens sejam radiantes, porque não vão. Creio que, se isso acontecesse, este blog não teria razão de existir.
Até lá, vou despejando sensações com as quais me deparo.

Um muito obrigada àqueles que "me" lêem... não é fácil!

Um relato



Uma qualquer energia toma controlo da minha essência, que despoleta o fervor de assimilar avidamente tudo o que se me depara. Vivo das guerras que me dispõe. Sem elas não sou ninguém. Sou mais uma marioneta, sem motivos que oliem as engrenagens.
Houve alturas em que julguei que o destino me estava indicado por painéis luminosos intermitentes. Perdi o alvo, baixei a guarda, baixei a cabeça. Eu moribunda, desmaterializei-me em essência.
Um abanão afugentou-me a dormência da mente e a ferrugem dos membros. Estalou uma das piores guerras alguma vez conhecidas, a que começa dentro de nós. Quase impossível de ser ganha é um facto, mas é apenas uma razão para me afincar no tiro. A força por si só não é suficiente, a pontaria traz sempre agravante à fatalidade do decorrer das coisas.
Foi-me injectado qualquer substância tóxica traduzida numa vontade de querer, de dizer, de desferir golpes àquele que se oponha, de gritar aos quatro cantos do mundo a minha morada para que venham bater-me à porta. Caso contrário, irão fazer-me levantar e ir eu ter ao se encontro.
Fervilho por dentro por saber que há batalhas a serem travadas e que, por questão de princípios, não posso contribuir. Fico no banco a observar o jogo, ainda não refeita de uma lesão muscular, e sei que só posso entrar dentro das quatro linhas quando me fôr dito. Cartões amarelos, passes longos, remates seguros, substituições de última hora. E o apito final. Volto para casa a imaginar o que faria se me passassem a bola para os pés.



Pois, parece que vou ter de ser eu a ir buscá-la!