quarta-feira, novembro 29, 2006

O meu Portugal...

O beijo

A pedido de alguém, escrevi um texto sobre o que representa para mim um beijo. Decidi postá-lo pela piada.

Para mim, um beijo, na mais pura acepção da palavra, é a manifestação mais profunda de um sentimento. É a prova de que não nos podemos sentir sós. Não é qualquer coisa que se dá porque simplesmente se dá. È peremptório sentir o arranque de carinho, e a necessidade de o demonstrar.
Um beijo numa amizade representa confiança e companheirismo, dedicação e preocupação. É uma aliança. Não são todos os amigos que se beijam na testa e se tratam como irmãos. Estou a falar do amigo “para tudo”, não o amigo de conveniência, de conversa de café e da pausa do cigarro.
Um beijo, para dois amantes, é algo muito mais intenso. Só de o imaginar, o estômago começa a borboletar, e um tremor quente e simultaneamente frio atravessa por todas as células até às extremidades do nosso corpo. Depois, um sorriso estúpido se bos estampa no rosto que, por muito que nos esforcemos, não o conseguimos tirá-lo. Há quem core, há quem não core. O que é certo é que desconcerta, imaginar ou lembrar um beijo daquela pessoa. Dá-se-nos um lapso no tempo e no espaço, olhamos para o infinito, como se do nosso corpo estivessem a abandonar todas as forças e se concentrassem unicamente num pensamento: o beijo, o beijo, o beijo...
Depois há os beijos repenicados, os beijos vorazes, os babados, os gulosos, os demorados, os barulhentos, os que fazem cócegas. Como quer que seja dado, onde seja dado, quando seja dado e, principalmente, por quem seja dado, beijo não é beijo se não houver sentimento.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Soneto de Todas as Putas

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.


Bocage

Fim de semana




Queima-me a fome de distracção
Como o dobro para a abstracção
Durmo o dobro para a incosnciência
E, muitas vezes, até sonho para a tormenta.

Semeiam matéria e colho apontamentos.
Frenesim do chocalhar de canetas
E restolhar das folhas e micas.

Ajuntamentos de 3 e 4 na faculdade,
Todos debruçados sobre linhas rasuradas
E a expelir fumo freneticamente

Palavra de ordem: contenção
Arrasto as pernas pesadas e tento
Manter acordada a concentração
E manter adormecido o desalento.

Releio um parágrafo 3 vezes,
Rogando pragas aos docentes,
Roo a tampa da caneta,
Oh bem... do que resta!

Trabalhos que se contam muitos
E frequências que se riem de longe.
Encurralam a vontade num qualquer canto
Para aí a fazerem mingar.

E eis que ele se aproxima,
Uma revelação quase sebastianista
Que abranda os dias e as noites:
O fim de semana.

Dois dias que me foram concedidos
Para viver
Finalmente!

segunda-feira, novembro 13, 2006

9º Festival de Capoeira do Grupo Alto Astral


Apareçam...!!
Para mais informações:
http://www.capoeiraaltoastral.net/

sexta-feira, novembro 03, 2006

O barulho do pensamento


O discurso tendencioso e aparentemente imparcial da professora conseguiu com que o ponto de ebulição ultrapassasse a medida suportável. Explodindo educadamente, arrumei as coisas e passei à frente da senhora suspirando impacientemente, como se tudo o que ela estivesse a dizer era-me irrelevante. Pior que isso...
Já não sei que diga, já não sei que escreva. De uma coisa estou segura, irei agarrar-me aos livros, cadernos, sebentas, fotocópias pois, independentemente de tudo e das voltas todas que a vida tiver para dar, estes serão os elementos que me irão libertar.
Não tenho mão nas coisas que me obrigam imperetrivelmente a vergar. Não posso ter parte activa sobre elas, caso contrário as consequências irão fazer enterrar cada vez mais os espigões que tenho na carne, que me prendem ao chão.
Vou enlouquecer numa trincheira, ameada de duas frentes de combate. O que me faz borbulhar de raiva por dentro é que uma delas nem tinha razão de existir. Hoje em dia, a consanguinidade não é mais que um fardo com o qual me vejo obrigada a carregar. Do qual terei que me lembrar cada vez que me olho ao espelho. Sem ela, como é que uma pessoa se pode identificar no mundo? Não se identifica, não é... Apenas se diz que se identifica, por falta de se identificar. Fraquezas pelas quais todos estamos propensos a passar, uma vez, e outra. Eu optei por uma transformação lenta, dolorosa e irreversível de eremita. Creio que não pode haver nada pior que a solidão. É a única coisa que verdadeiramente me aflige, que me faz o coração descer até aos pés. Já lhe tomei várias vezes o gosto, aos poucos, mas o suficiente para entender que uma pessoa pode muito bem morrer da amargura da solidão.
Se continuasse como era, tinha-os em todo o lado. Mas então...
Estou a enfrentar um dos meus maiores medos.
E tenho de o fazer sozinha...
Deus me ajude.