Pensamentos acabaram de me atrofiar a concentração. Resignei-me. Não dá para tentar fixar os olhos em palavras sublinhadas a marcador fluorescente, enquanto estou em qualquer outro sítio menos sentada à secretária.
Mais uma das muitas vagas de nevoeiro que me toldam os sentidos. A mesma dormência já conhecida, tão familiar minha que se tornou companheira na luta diária. Só eu e ela. A minha sombra que se incidiu em mim mesma, tapando-me dos raios diurnos que me inebriavam... Tomara eu desistir de tudo isto, largar tudo, mudar o cartão de memória e seguir para além das fronteiras por mim impostas.
É tão estúpido tentarmo-nos cegar a nós próprios! É quando a visão toma a sua maior resolução. Mas tem mesmo de ser!
Engolirmo-nos, trazendo de arrasto tudo o resto adicionado, em virtude de outrém. Vêr alguém sorrir e retribuir o sorriso, mas por dentro só apetecer destruir, mutilar, rasgar a realidade em mil pedaços e incenerar num momento aquilo que levou sete dias a ser construído.
Estarei a ser falsa? Se o estiver a ser é pela simples tentativa de preservar os outros de mim própria. E vejo-me a rir, muitas das vezes, ironicamente de traço sarcástico e vice-versa. E tenho consciência que transparece tudo menos alegria e felicidade espontâneas. Mas é a única maneira de estancar as lágrimas, sempre tão desnecessárias e inutilmente estúpidas e ineptas. A máscara ajuda-me a filtrar não a informação que assimilo, mas a que emano para o exterior. Por mais que queira, já não a consigo tirar. A única vantagem é as afrontas que ainda estarão para chegar que, ao baterem na casca dura, só fazem ricochete, independentemente em quem acertar. E, muito sinceramente, prefiro nem saber. Eu avisei.
É uma das muitas explicações que arranjei para aqueles que muitas vezes me perguntam o Porquê? e o Como?, e eu respondo com o Até quando?.
A Raiva alimenta-me os sonhos e os pesadelos.
Fomenta-me projectos e angústias.
Sedimenta-me o futuro e corrói-me o passado.
Torna-me implacável em actos e auto-destrutiva em pensamentos.
E tudo porquê?
Represento para mim própria. Não porque tenho prazer em fazê-lo, mas para me esquivar às investidas assoladoras e multidireccionais de qualquer coisa que me é desconhecida. E tão grata por isso estou que me apetece distorcer aquilo que me é realmente verdadeiro.
ALGUÉM QUE ME EXPLIQUE A PIADA DE VÊR AS PESSOAS A DAREM COM A CABEÇA NA PAREDE? Sim, porque uma vez que é tão divertido, também me queria rir. E ver se sai verdadeiro!!
Não quero fazer guerra Contigo, mas se eventualmente me preparares mais alguma, juro pelo santo nome que Te foi dado, que não Te vai agradar muito a minha reacção.
Posto isto, aguarda...